quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

História em progresso


Todos assistimos com interesse ao que se passa no norte de África. Creio que é daqueles momentos em que temos o privilégio de assistir a algo que ficará nos livros de história.

Tudo começou com protestos estudantis na Tunísia, ao qual os mais diversos estratos da sociedade aderiram, e mais tarde, quando o exercito se recusou a agir contra a população, levaram á queda de Ben Ali, ditador á várias décadas no poder. Esta revolta popular da Tunísia teve um efeito dominó no mundo árabe e alastrou a muitos dos seus vizinhos, da Argélia a Marrocos, do Iemen ao Egipto. E é neste ultimo que os protestos atingem o seu ponto mais critico.

O Egipto tem sido a maior potencia árabe do Norte de África, um aliado importante do ocidente e um elemento decisivo na equilíbrio com Israel. O seu velho ditador,Hosni Mubarak, vê-se a braços com uma revolta inédita nas suas várias décadas no poder, e até já anunciou o seu abandono dentro de meses. O mesmo se passa no Iemen.

Enquanto democratas a nossa primeira reacção sempre que uma ditadura cai por força do levantamento do seu povo é de alegria. Mas passado esse primeiro momento é necessário ter em atenção diversos pontos. Estas ditaduras, apesar de condenáveis, eram ditaduras que davam muito jeito ao ocidente pois estabilizavam uma região muito complicada e; acima de tudo, continham os extremismos religiosos que põem em causa a nossa segurança colectiva. Musbarak, ben Ali, Khadafi ou o rei Mohamed VI eram males com que o ocidente convivia bem.

Agora, após a queda de Ben Ali e previsível queda de Musbarak, exige-se aos Estados Unidos e á Europa grande habilidade politica na gestão da evolução destes regimes para democracias de pleno Direito. Cabe apoiar as forças moderadas, fazer prevalecer as simpatias pelos direitos e liberdades, e não permitir que a incerteza leve á ascensão de forças extremistas que visem a instalação de estados de cariz religioso. Os sinais de aviso estão aí, a começar pelo desejo publico expressado pelo Irão de que as revoluções se tornem Islâmicas.

Será possível instalar democracias nesses países do mundo árabe? Creio que sim. Temos o exemplo da Turquia, que não sendo ideal, é muito positivo. Creio que na Tunísia isso será menos difícil. Com uma classe média culta e próspera, que desde cedo tomou as rédeas da revolução, creio que a Tunísia tem tudo para uma evolução no caminho certo. Já no Egipto a situação é mais complicada. Aí as forças Islâmicas são mais influentes e o caminho é mais estreito. Mas o aparecimento de uma figura como o Nobel da Paz Al Baradei pode ser vista como positiva.

Creio que são momentos verdadeiramente históricos que devemos seguir com toda a atenção. Até porque muita da segurança Europeia pode passar pelo resultado destas revoluções.

Tenho Dito

2 comentários:

luis cirilo disse...

Pode ser que seja assim.
Mas receio que ainda um dia venhamos a ter saudades dessas ditaduras.
Porque,como dizes,continham o radicalismo islâmico.
E poderes frágeis,como actualmente em todos esses paises,propiciam a ascensão de fanatismos de indole religiosa.
Veja-se o que aconteceu no Irão quancaiu o Xá.
Ou mais recentemente no Afeganistão com os sinistros estudantes de teologia.
Creio que a Europa tem boas razões para estar muito preocupada.

João Carvalho disse...

No caso do Egipto sim, temos razões para estar preocupados, embora ainda haja uma grande margem para tudo correr pelo melhor. Quanto á Tunisia, pela existencia de uma classe média mais culta, próspera e informada e até pela influencia da comunidade tunisina emigrada na Europa, creio que poderemos aí ter uma real democracia. Agora não queiram é uma democracia perfeita. Nem em Portugal o temos. :/