quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Avisos a ter em conta


Causou grande comoção dentro do governo e do partido que o apoia a entrevista do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, em que este se mostrava favorável a um governo de "salvação nacional" entre PS, PSD e CDS. Era ver o quão atrapalhado estava Sócrates, apanhado de surpresa por esta atitude que , á primeira vista, poderia ser entendida como um acto de deslealdade de um Ministro para com o Chefe do Governo. Mas não o é, é apenas o verbalizar da enorme preocupação que vai na comunidade internacional, por parte de quem maior contacto tem com essa mesma preocupação dos nossos parceiros internacionais.

Por norma, em Portugal, o Ministro dos Negócios Estrangeiros é aquele que menor desgaste sofre, em termos de popularidade, com os rigores da governação. Isso deve-se a vários factores. Em primeiro lugar ao facto de que o único verdadeiro acordo de regime que foi verdadeiramente sólido no nosso pais, desde o 25 de Abril, entre os partidos do arco governativo ser o que diz respeito ás posições internacionais do nosso país. Isso origina que, seja o governo PS ou PSD, haja consenso quanto ás posições a tomar, logo os ataques e criticas, a existirem, provêm da esquerda radical (BE e PCP) aos quais a maioria dos portugueses não leva a sério.

Outro factor é a pouca "disponibilidade" (á falta de melhor termo)da maioria dos portugueses para perderem tempo com politicas internacionais. Em Portugal, ao contrário de outros países, as questões internacionais quase não têm peso nos momentos eleitorais, ao contrario da Economia, segurança, educação ou saúde. Isso leva a que o seu debate seja secundarizado, excepto se a situação for de uma relevância fora do normal (ex: cimeira das Lajes).

Por tudo isto o Ministro dos Negócios Estrangeiros é uma figura quase consensual, que parece pairar acima da politica interna, e que muito raramente intervêm publicamente nesses mesmos assuntos políticos internos. E quando o entende fazer é porque de facto a situação está mesmo negra.

Luís Amado assim o fez. -lo com a autoridade de ser o que melhor posicionado está para veicular a opinião que lá fora se tem da nossa situação. -lo com a autoridade de ser um caso quase único neste governo, ou seja, dos poucos que tem feito um bom mandato e conseguido vitórias para Portugal (ex: eleição para o conselho de segurança da ONU). -lo com a autoridade de quem já varias vezes se disponibilizou para sair, mostrando não estar agarrado ao lugar, ao contrário da maioria dos seus colegas.

As palavras de Luís Amado devem ser analisadas com toda a atenção, apesar de serem absolutamente um exercício de alguma inutilidade. Porque um acordo, seja de que tipo for, entre estes partidos é neste momento impossível. Porque o PS não abdica de Sócrates, pois nenhum dos potenciais sucessores (Assis, Costa, Seguro) se quererá queimar já numa liderança condenada, e porque assim sendo a presença de Sócrates inviabiliza qualquer acordo de cavalheiros.

Fica a nota do esforço de Luís Amado. Pena que tenha sido chover no molhado.

Tenho Dito

1 comentário:

luis cirilo disse...

Já é tarde para mudanças de rumo.
Agora o calendário parece-me claro:
Presidenciais, moção de censura,eleições legislativas.
Amado não parece ter percebido o essencial: Não há ninguém (fora os boys e girls) que queira incorrer no desprestigio de fazer parte de um governo liderado por Sócrates.
Alias desconfio que o Próprio Amado quer é pôr-se ao "fresco"...